Diário Pico Zen - Dia 4
28/04/2025

Hoje o dia acordou diferente. Ao contrário dos outros dias, chovia. A montanha, que nos tinha acompanhado até aqui, estava escondida por trás de uma nuvem espessa. Acordámos devagar, como se o corpo já soubesse que era o último dia. A mala já estava feita, mas o coração ainda não.
Às 9h30, sentámo-nos para o último pequeno-almoço. Ainda houve tempo para trocar palavras com caras conhecidas, aquela conversa simples de quem partilhou o mesmo espaço, as mesmas refeições, os mesmos caminhos durante quatro dias.
Às 10h00, na tenda principal, participei num dos momentos que mais queria viver: a Roda de Mulheres, dinamizada, mais uma vez, pela Rute Cheia de Graça. Éramos nove mulheres, sentadas em círculo. À nossa frente, cartas com imagens e nomes de outras mulheres que deixaram marca no mundo. Fomos convidadas a escolher aquelas com quem nos identificávamos e a partilhar o porquê.
Escolhi a Sophia de Mello Breyner Andresen e a Natália Correia. A Sophia faz parte do meu imaginário de infância — pelos seus poemas, pelos livros que me faziam sonhar. A Natália surgiu mais tarde, na fase adulta, com as suas palavras fortes e o ativismo pela igualdade. Foi bonito perceber como, apesar de todas termos histórias diferentes, as nossas emoções tocam-se. Alegria, medo, coragem, saudade. Passaram duas horas e nem demos por isso. E, entretanto o sol apareceu.
Depois, foi altura de almoçar. A última refeição vegan do festival. Partilhámos a mesa com os últimos resistentes — e com a Ana e o Luís, os rostos por trás do PicoZen. Falámos um pouco sobre os dias que vivemos ali. A palavra que me vem à cabeça é: pausa. Este festival dá mesmo espaço para isso — parar, respirar, experimentar.
Vim com a Maria Beatriz, e como já conheço algumas das atividades — como o whalewatching — desta vez escolhemos ficar mais pelo parque e fazer os trilhos, os workshops e tudo o que estivesse por perto. Ficámos a cerca de 2km do parque e, de propósito, não alugámos carro. Sabia que o tempo ia estar bom, por isso fizemos sempre o caminho a pé, uns 25 minutos por dia. Vínhamos com o pacote completo: alojamento, alimentação e todas as atividades incluídas. Mais uma vez, foi uma boa escolha.
Divertimo-nos muito. A Maria Beatriz veio com os joelhos e cotovelos esfolados, como já é tradição. Quando lhos apontei, ela respondeu: “Faz parte do PicoZen, mãe.” E é mesmo isso. Foram quatro dias felizes. E queremos voltar.
Chegou a hora da despedida. Voltámos a encontrar o Paulo, que nos recebeu no primeiro dia — agora é ele quem nos leva à gare marítima da Madalena. Seguimos de barco até ao Faial, numa travessia curta de 30 minutos. Depois, aeroporto da Horta e voo de regresso à Terceira.
Obrigada, PicoZen. Voltamos mais ricas. Mais leves. Mais nós.
Daniela Silveira
Gestora Cultural